ANGELA PINHO
LARISSA GUIMARÃES
da Folha de S.Paulo, em Brasília
No momento em que avaliações internacionais colocam o Brasil nas últimas colocações no ensino de português, matemática e ciências, o governo aposta na educação integral para reverter o quadro.
Dez mil escolas das redes estaduais e municipais, reunindo 3 milhões de alunos --mais que o dobro deste ano (4.400 escolas, com 1,3 milhão de estudantes)--, terão três horas a mais de estudo a partir de 2010.
O projeto do Ministério da Educação tem dois desafios: garantir que mais horas na escola se traduzam em melhor aprendizagem; e não repetir projetos anteriores que fracassaram.
Pelo programa, as escolas recebem verbas adicionais para oferecer mais atividades em um turno extra -a jornada escolar passa de quatro para sete horas por dia. O acréscimo pode ser de esporte a horta, desde que haja ao menos alguma aula com objetivo estritamente pedagógico, como reforço escolar.
As atividades ficam por conta de monitores voluntários, que recebem de R$ 60 a R$ 300.
O valor motivou troca de farpas entre o governo Lula e a administração Gilberto Kassab (DEM) em São Paulo. Para o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider, os recursos do MEC não cobrem os custos da ampliação do horário. "Ele pode complementar [o pagamento], à vontade", reagiu André Lázaro, secretário do MEC responsável pelo ensino integral.
Paliativo
Não basta, porém, ficar mais horas na escola se a qualidade do ensino deixa a desejar. Em tese de doutorado defendida na USP, a pesquisadora Ana Maria de Paiva Franco mostrou que crianças que estudam mais de cinco horas na rede privada têm melhores notas, mas na pública esse efeito não ocorre.
Para ela, isso acontece porque, no setor privado, os professores são mais cobrados a apresentar resultados.
Por outro lado, defensores da educação integral afirmam que, com ela, a escola pode ajudar a suprir as deficiências culturais do ambiente familiar.
Para especialistas, é necessário, além de equipe qualificada, estrutura para não repetir erros de projetos anteriores.
"É preciso não esquecer o fracasso do projeto apressado e salvacionista dos Cieps, implantado no governo Leonel Brizola [1983-86]", avalia a professora da PUC-Rio Zaia Brandão. "Quando perceberam que perderiam as eleições, aceleraram as construções e desmontaram o que poderia ter sido --e foi em alguns deles-- um excelente projeto experimental."
Os Cieps inspiraram os Ciacs, do governo Fernando Collor (1990-92). O então presidente prometia implantar, em 1992, 640 unidades do Ciac. O número não chegou a 500.
O projeto depois mudou de nome: Caic. A Folha visitou a primeira escola do projeto, aberta em 1991, o Caic Madre Paulina. Não há ensino integral desde 1998, as salas são abarrotadas de alunos e uma das poucas "atividades extracurriculares" é uma sala de vídeo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário